O poder das riquezas versus o poder da paciência
“Sejam também pacientes e fortaleçam o seu coração, pois a
vinda do Senhor está próxima.” (Tg 5.8)
Há poucos meses, vimos mais uma edição dos jogos
olímpicos. Os Jogos de Tóquio foram diferentes das olimpíadas anteriores de
diversas maneiras: por causa da pandemia foram realizados com um ano de atraso
e sem a presença do público, novas modalidades foram incluídas, tivemos nossa
medalhista mais jovem... Porém, algo que não muda nas competições esportivas é
a rivalidade. Dentre vários que disputam a tão sonhada medalha de ouro, apenas
um atleta ou equipe conquista o primeiro lugar. Da mesma forma, muitas são as
atitudes que disputam nosso coração.
Em Tiago 5.1-12, podemos aprender sobre uma das mais
acirradas batalhas que ocorrem em nosso coração – a luta das riquezas deste
mundo contra a esperança do porvir. De um lado o dinheiro e suas promessas de
alegrias e realizações aqui e agora. Realizações e prazeres palpáveis e
exibíveis. Doutro lado do “ringue”, a promessa de vida eterna e bençãos
espirituais sem medida. Esperança invisível e futura que não pode ser tocada ou
experimentada agora, mas que dita o hoje à luz do amanhã garantido por Deus no
Evangelho de Jesus Cristo.
Quais são os conselhos que o pastor de Jerusalém nos
dá para que a esperança de Jesus seja a vencedora?
O poder das riquezas é enganoso (Tg 5.1-6)
Perceba que o tom de Tiago neste trecho é de
condenação. Um coração arraigado nas riquezas deste mundo está longe de Deus.
Ao confiar no que tem, o homem esquece-se de ser aquilo que Deus planejou que
ele fosse. O Senhor nos planejou para manifestar sua glória. No altar do
dinheiro, o homem procura erguer seu próprio nome acima dos outros numa
tentativa vá de usurpar a glória do Senhor.
Ao abraçar o vil metal como razão de sua existência,
os que tem usam sua condição para explorar o que não tem (v. 4). Moldam um
sistema corrupto que os beneficia às custas de pessoas corretas. Nas palavras
de Tiago, seu destino é terrível. Em uma palavra, seu futuro é descrito: desgraça.
O poder da paciência é sustentador (Tg 5.7-11)
No verso 7 percebemos a conexão com o trecho
anterior. Tiago introduz o tema da paciência com um “portanto”. Uma explicação
para esta ligação pode ser que os justos oprimidos por ricos perversos e
corruptos (v. 6) podem ser os próprios cristãos pastoreados pelo autor da
carta. Se de uma lado estão os avarentos, noutro devem estar os verdadeiros
crentes que esperam por algo muito maior e melhor do que este mundo possa
oferecer.
A própria ordem criada revela que é com paciência que
devemos esperar que a terra nos dê o alimento. Aquele que planta não pode
exigir que seu investimento tenha retorno imediato. Mais do que simplesmente
capital investido, são necessários o trabalho diligente e a dependência
paciente. Assim devemos esperar a volta de Jesus: orando e trabalhando (ora
et labora). Bons exemplos desta postura podem ser extraídos do Antigo
Testamento. Tiago destaca que tanto os profetas quanto Jó foram exemplos de
paciência e perseverança. Suportaram o sofrimento tendo em vista uma recompensa
muito maior: a contemplação do Senhor (cf. Jó 42.5). O Senhor é bom e, pela fé,
podemos receber suas grandiosas e graciosas recompensas (Hb 11.6).
A esperança na prática: um falar reto, sincero
e coerente (Tg 5.12)
De que modo isso se aplica à nossa realidade? Confiar
no Senhor e esperar pacientemente o cumprimento de suas promessas tem relação
direta com nossos compromissos. Por isso esta passagem termina com estas
palavras: “Sobretudo, meus irmãos, não jurem, nem pelo céu, nem pela terra,
nem por qualquer outra coisa. Seja o sim de vocês, sim, e o não, não, para que
não caiam em condenação” (Tg 5.12). O que espera no Senhor não busca aquilo
pelo qual precisa mentir para conseguir. Nesta citação indireta do Sermão do
Monte (Mt 5.34-37), Tiago mesmo nos aplica dizendo (em outras palavras) que o
crente que tem toda sua esperança no cumprimento das promessas de Deus não
valoriza tanto os valores desta terra ao ponto de desonrar seus compromissos
assumidos ou de fazer promessas que não poderá cumprir.
Quão fidedigna é nossa palavra? Se a esperança é
vitoriosa nas batalhas do nosso coração, honraremos nossos compromissos e não
assumiremos compromissos que não podemos honrar. Que o apelo desta sociedade
consumista não seja suficiente para nos derrotar nesta luta.